Do Semanário
Expresso, com data de 27 de setembro de 2013
NOS NÃO
SABEMOS VOTAR
Segundo um inquérito do Centro de Estudos Sociais da Universidade de
Coimbra, a maioria dos magistrados acha que nós não sabemos votar. Não me surpreendo
nem perturbo com esta con clusão. Pelo contrário, subscrevo-a inteiramente. Por
inerência das minhas obrigações de médico, oiço sempre as queixas dos meus
doentes relativas às suas situações sociais, pois a saúde não é só a ausência
de doença, como lembra a OMS, mas sim o bem estar físico, mental e social. A
partir deste meu observatório, por onde já desfilaram milhares de seres humanos
ávidos de atenção, vou ouvindo confissões que, por serem muito repetidas, me
permitem concluir (tal como aos magisttados) que nós não temos cultura política
e, consequentemente, não sabemos votar: ignoramos que, quando votamos num partido,
nas eleições legislativas, estamos a contribuir com tês euros e tal para esse
partido; não sabemos o que são listas uninominais; desconhecemos que a
Constituição se autobloqueia a alterações propostas por iniciativa dos
cidadãos; receamos o voto em branco porque receamos que nas mesas de voto alguém
ponha a cruzinha por nós; achamos que os partidos não merecem confiança e
queixamo-nos das taxas moderadoras, mas como "temos que ter quem nos governe",
votamos nos do costume; os critérios para vermos qual é o menos mau tem a ver
com reflexos condicionados próprios do consumismo, e não com o exercício da
razão; recusamos votar num partido que nunca tenha governado porque, sem funda
mentação, consideramos que são todos iguais, etc. E os resultados das nossas
más escolhas estão à vista!
José Madureira, Porto
(Expresso, 27 de setembro de
2013, página 34)
E os resultados das nossas escolhas em Sintra?
E os resultados das nossas escolhas em Rio de Mouro?
E os resultados das nossas escolhas em Vale Mourão?