sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Praceta Maria Judite de Carvalho

Maria Judite de Carvalho (Lisboa, 18 de Setembro de 1921 - Lisboa, 1998) foi uma escritora portuguesa.

Entre 1949 e 1955 viveu em França e na Bélgica. Apesar da notória qualidade e profundidade da sua obra e da sua escrita (entre o poético e novelista, entre o cómico e o grotesco, num registo ora trágico, ora ironicamente perverso), a autora permanece ainda desconhecida do grande público.

"Maria Judite de Carvalho permanece uma escritora de actualidade renovada, difícil de catalogar no estilo que geralmente lhe é associado (herdeiro do existencialismo e do chamado “novo romance”), hábil dissecadora do desespero e da solidão quotidiana na grande cidade.", conforme referido AQUI . A suas obras não pretendem dar explicações ou ser tratados morais ou comportamentais pelo que a explicação é substituída pela insinuação e pela sugestão, de onde decorre a opção por uma escrita "limpa", sem excessos estilísticos, a por narrativas breves.

Alguns apontamentos sobre a sua obra

O Silêncio aparece, na sua obra, como consequência da incompreensão que advém do cruzamento de vozes, de diálogos de surdos e de monólogos, sendo fruto da Solidão e do abandono tantas vezes (pres)sentido pelas suas personagens, aparecendo a solidão como essência do Humano.

Nas personagens de Mª Judite de Carvalho projecta-se a solidão enquanto presença constante da inquietação e do desassossego, da depressão, da negatividade, da autodenegação e da vontade de se dissipar, devido ao mundo de desconforto que existe e se constrói (visível, sobretudo, na personagem Mariana do conto "Tanta Gente, Mariana").

A existência sem história das personagens desta autora constitui o cenário sobre a qual se ilustram vidas de abandonos, de angústias e de uma solidão irremediável que atinge brutalmente os protagonistas da maioria dos seus contos, em que a solidão aparece como irremediável e perene, comprometendo qualquer hipótese de felicidade.

Alguns dos títulos dos contos de Maria Judite de Carvalho ilustram, quase como uma bandeira, um universo ficcional trespassado pelo vazio, pelo silêncio, pela irreversibilidade do tempo e pelo fingimento: As Palavras Poupadas (1960) revelam a recusa do discurso excessivo, numa postura de rasura do supérfluo; Paisagem sem Barcos (1963), Armários Vazios (1966) e o título dos contos Impressões Digitais e Vínculos Precários sugerem o vazio que preenche as vidas e a superficialidade das acções humanas; A Janela Fingida (1975) parece querer ilustrar o provérbio "nem tudo o que parece é", havendo sempre lugar para a mentira, para a omissão, isto é, para o fingimento.

Maria Judite de Carvalho, sobretudo nos seus contos, tem, desde os títulos, uma tendência para nomear as suas protagonistas, colocando os leitores imediatamente perante personagens concretas e distintas: Rosa, numa pensão à beira mar, Anica nesse tempo, George, Tanta gente, Mariana, A avó Cândida, A menina Arminda, ou, menos directamente e mais discretamente, Uma senhora, A Mãe e A Noiva Inconsolável.

Foi casada com Urbano Tavares Rodrigues.

Bibliografia

Tanta Gente, Mariana (contos), Lisboa: Europa América, 1988.
As Palavras Poupadas (contos), Lisboa: Europa América, 1988. (Prémio Camilo Castelo Branco).
Paisagem sem Barcos (contos), Lisboa: Europa América, 1990.
Os Armários Vazios (romance), Lisboa: Livraria Bertrand, 1978.
O Seu Amor por Etel (novela), Lisboa: Movimento, 1967.
Flores ao Telefone (contos), Lisboa: Portugália Editora, 1968.
Os Idólatras (contos), Lisboa: Prelo Editora, 1969.
Tempo de Mercês (contos), Lisboa: Seara Nova, 1973.
A Janela Fingida (crónicas), Lisboa: Seara Nova, 1975.
O Homem no Arame (crónicas), Amadora: Editorial Bertrand, 1979.
Além do Quadro (contos), Lisboa: O Jornal, 1983.
Este Tempo (crónicas) Lisboa: Editorial Caminho, 1991. (Prémio da Crónica da Associação Portuguesa de Escritores).
Seta Despedida (contos), Lisboa: Europa América, 1995. (Prémio Máxima, Prémio da Associação Internacional dos Críticos Literário, Grande Prémio do Conto da Associação Portuguesa de escritores, Prémio Vergílio Ferreira das Universidades Portuguesas).
A Flor Que Havia na Água Parada (poemas), Lisboa: Europa América, 1998 (póstumo). Havemos de Rir! (teatro), Lisboa: Europa América, 1998 (póstumo).

Prémios

Prémio Camilo Castelo Branco, 1961

Prémio de Novela da Sociedade Portuguesa de Escritores, 1983

Prémio da Associação Internacional dos Críticos Literários, 1995

Prémio Vergílio Ferreira, 1998, a título póstumo:

Recebido pelo marido, o escritor Urbano Tavares Rodrigues

Texto transcrito de “Wikipédia, A enciclopédia livre

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