terça-feira, 1 de novembro de 2011

pão-por-deus




Tinha acabado de me levantar quando a campainha da porta se fez ouvir. Abri a porta e fui surpreendido pela voz de 5 crianças, com idades entre os 6 e os 10 anos

“pão-por-deus”, disseram em uníssono e com um sorriso e alegria estampada nos olhos. Para muitos daqueles pequenos era um dia de aventura.

Aquelas crianças saberiam que estavam a perpetuar uma tradição com 255 anos? Possivelmente não. Para eles era um dia em que os pais os tinham deixado, talvez com alguma preocupação, fazer algo de diferente. Uma autêntica aventura!

Sorri para aqueles jovens e dei-lhes alguns doces. Depois destes muitos voltaram e lá fui encontrando os “mimos” que, aparentemente, os deixavam felizes.

No entanto, aquelas crianças não estavam ali com o mesmo espírito das crianças que em 1756 (um ano depois do terramoto que destruiu Lisboa) andavam quilómetros a pé para, nos locais não destruídos, implorarem por comer. Até porque a nossa urbanização é essencialmente habitada por famílias da classe média baixa.

E, de cada vez que fechava a porta, ainda com os comentários e sorrisos daqueles miúdos dentro de mim, pensava nos milhões de crianças que em toda a parte (e também em Portugal) pediam “pão-por-deus” para matarem a fome, como outros o fizeram há 255 anos.

Até quando?!...


**********

"Pão por Deus"

Em Portugal, no dia de Todos-os-Santos as crianças saem à rua e juntam-se em pequenos bandos para pedir o pão-por-deus de porta em porta. As crianças quando pedem o pão-por-deus recitam versos e recebem como oferenda: pão, broas, bolos, romãs e frutos secos, nozes, amêndoas ou castanhas, que colocam dentro dos seus sacos de pano. É também costume em algumas regiões os padrinhos oferecerem um bolo, o Santoro. Em algumas povoações chama-se a este dia o ‘Dia dos Bolinhos’. São vários os versos para pedir o pão por deus:

Pão, pão por deus à mangarola,

encham-me o saco,

e vou-me embora.

A quem lhes recusa o pão-por-deus roga-se uma praga em verso:

O gorgulho gorgulhote, lhe dê no pote,

e lhe não deixe,

farelo nem farelote.

Esta tradição teve origem em Lisboa em 1756 (1 ano depois do terramoto que destruiu Lisboa). Em 1 de Novembro de 1755 ocorreu o terramoto que destruiu Lisboa, no qual morreram milhares de pessoas e a população da cidade, que era na sua maioria pobre, ainda mais pobre ficou.

Como a data do terramoto coincidiu com uma data com significado religioso (1 de Novembro), de forma espontânea, no dia em que se cumpria o primeiro aniversário do terramoto, a população aproveitou a solenidade do dia para desencadear, por toda a cidade, um peditório, com a intenção de minorar a situação paupérrima em que ficaram.

As pessoas, percorriam a cidade, batiam às portas e pediam que lhes fosse dada qualquer esmola, mesmo que fosse pão, dado grassar a fome pela cidade. E as pessoas pediam: "Pão por Deus".

Esta tradição perpetuou-se no tempo, sendo sempre comemorada neste dia e tendo-se propagado gradualmente a todo o país.

Até meados do séc. XX, o "Pão-por-Deus" era uma comemoração que minorava as necessidades básicas das pessoas mais pobres (principalmente na região de Lisboa). Noutras zonas do país, foram surgindo variações na forma e no nome da comemoração. A designação indicada acima (Dia dos Bolinhos) em Lisboa nunca foi utilizada, nem era sequer conhecido este nome.

Nas décadas de 60 e 70 do séc. XX, a data passou a ser comemorada, mais de forma lúdica, do que pelas razões que criaram a tradição e havia regras básicas, que eram escrupulosamente cumpridas:

• Só podiam pedir o "Pão-por-Deus", crianças até aos 10 anos de idade (com idades superiores as pessoas recusavam-se a dar).

• As crianças só podiam andar na rua a pedir o "Pão-por-Deus" até ao meio-dia (depois do meio-dia, se alguma criança batesse a uma porta, levava um "raspanete", do adulto que abrisse a porta).

A partir dos anos 80 a tradição foi gradualmente desaparecendo e, actualmente, raras são as pessoas que se lembram desta tradição.

Até a comunicação social, contribui para o empobrecimento da memória coletiva. Neste dia todas as estações de TV, Rádio e jornais, falam no Halloween, ignorando completamente o "Pão-por-Deus".

Embora não advoguem a crença no purgatório, há igrejas protestantes que também guardam o Dia de Finados. Com efeito, é o terceiro dentre três dias consecutivos que a cristandade considera como tendo relação especial com os mortos. O dia antes, 1.° de novembro, é o Dia de Todos os Santos, em honra às almas dos “santos”, que se pensa já terem chegado ao céu. E o dia anterior, 31 de outubro, é chamado “Halloween” (em inglês) ou Véspera de Todos os Santos, e seu nome em inglês se deriva de ser a véspera do “Dia de Todos os Hallows [Santos]”.

“Halloween”, também, tem relação com os mortos. No calendário dos antigos celtas, 31 de outubro era a Véspera do Ano Novo. Os celtas, junto com seus sacerdotes, os druidas, criam que, na véspera do ano novo, as almas dos mortos perambulavam pela terra. Sustentava-se que alimentos, bebidas e sacrifícios podiam apaziguar tais almas perambulantes. Também, “halloween” incluía fogueiras para expulsar os maus espíritos.

A respeito das fogueiras nessa época do ano, lemos em Curiosities of Popular Customs (Curiosidades dos Costumes Populares): “Usavam-se também fogueiras em diferentes horas e lugares, na Noite de Todos os Santos, que é a véspera do Dia de Finados, e no próprio Dia de Finados, o 2 de novembro. Nestes casos, as fogueiras eram consideradas como típicas da imortalidade, e imaginava-se serem eficazes, como sinal exterior e visível, pelo menos, para iluminar as almas [isto é, ajudá-las a libertar-se] do purgatório.”

Transcrito de wikipedia (A Enciclopédia Livre)


Sem comentários:

Enviar um comentário